terça-feira, 31 de maio de 2011

Jornalistas debatem demissões nas redações de grandes jornais

Atividade organizada pelo Movimento Sindicato É Pra Lutar será nesta terça-feira (31) às 20h

31/05/2011

Desde o início do ano, mais de 200 jornalistas foram demitidos das redações em São Paulo. As demissões ocorrem na contramão da situação econômica dos principais grupos de comunicação em funcionamento no estado, que apresentam crescimento em 2011. Para debater esta dura realidade para os profissionais do jornalista, o Movimento Sindicato É Pra Lutar realizará nesta terça-feira, 31 de maio, às 20h, o debate "Demissões nas redações de SP - Hora de dizer basta!". A atividade acontecerá no Espaço Cultural Latino-Americano, na Rua da Abolição, 244 - próximo à Câmara Municipal.
Entre os debatedores estão Marilu Cabañas, jornalista que trabalhou mais de 16 anos na Rádio Cultura e foi recentemente demitida com outros 150 trabalhadores da Fundação Padre Anchieta; Wladimir Aguiar, ex-fotógrado de São Paulo, demitido no processo de reestruturação da empresa; e Jorge Félix, jornalista que tem pesquisado esse cenário de transformação nas redações.
Em janeiro deste ano, a direção do Grupo Estado anunciou crescimento de 11% na venda de exemplares digitais e impressos do jornal. Um mês depois, 22 colegas das redações do jornal e do portal Estadao.com foram demitidos. Em março, a Editora Abril dispensou 32 jornalistas e extinguiu as revistas Aventuras na História e Vida Simples. Outros 10 jornalistas da redação do jornal Meia-Hora receberam o aviso de demissão. Pertencente ao grupo Ejesa, o jornal foi extinto. Ainda em março, a Rede TV! demitiu brutalmente 22 jornalistas do seu portal, pelo simples fato de exigirem melhores condições de trabalho. Em dois anos, mais de 50 jornalistas foram forçados a pedir demissão do site da emissora, numa clara prática de assédio moral da direção do portal da RedeTV!
Este quadro é agravado pelas inúmeras denúncias de jornadas excessivas - de até 15 horas - e violações dos direitos trabalhistas dos jornalistas, ainda mais intimidados diante da ameaça de novas demissões nas redações.
O Movimento Sindicato é Pra Lutar! foi criado em abril de 2002, reunindo profissionais que, inconformados com os rumos tomados pela direção do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, decidiram organizar-se com a finalidade de levar a categoria a refletir sobre a difícil situação da entidade, e a agir para superar sua crise. Desde então vem participando ativamente da vida do sindicato, seja nas campanhas salariais, assembléias orçamentárias, congressos e eleições.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Terrorismo de Estado USA – Rumo ao IV Reich

O poder da gigantesca máquina de desinformação imperial impede os povos de compreenderem o perigo que os ameaça
16/05/2011

Miguel Urbano Rodrigues

Comentando o assassinato de Bin Laden, Michael Moore escreveu no Twiter: “Matamos mais de 919 000 no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão, etc., e gastamos 1 bilhão e 200 000 milhões de dólares em despesas militares e, finalmente, conseguimos assassinar mais uma pessoa”.
A operação militar que eliminou o líder da mítica Al Qaeda confirmou uma realidade: o sistema de poder dos EUA, na sua ânsia de dominação planetária, pratica uma política internacional na qual o terrorismo de Estado se tornou componente fundamental. Os EUA comportam-se como candidatos a surgir na História como o IV Reich do século XXI.
A “operação Gerônimo” - nome que insulta a memória do herói apache - foi o desfecho de um projeto concebido com minúcia científica pela Administração Obama. Anunciada a candidatura do Presidente à reeleição, faltava somente marcar uma data.
A CIA sabia há muito onde ele se encontrava. Acompanhava-lhe os movimentos diários na residência de Abotabad através de sofisticados aparelhos electrônicos e os contatos dos seus mensageiros com o exterior, recorrendo inclusive  a satélites. O Pentágono e os serviços de inteligência conheciam os nomes de todas as pessoas que viviam com Bin Laden.
O novelo de contradições que envolve o folhetim da morte do “inimigo número 1” dos EUA não resulta de desinformação. Foi concebido para semear confusão e transmitir a ideia de que Obama, agindo como democrata, transmitia ao povo norte-americano informações sobre a “operação militar” logo que as recebia.
Mentia conscientemente, como demonstraram em importantes artigos intelectuais progressistas como Michel Chossudovsky, Noam Chomsky, James Petras, Domenico Losurdo, John Pielger, e outros.
O presidente, aliás, apresentou diferentes versões dos fatos nas entrevistas às três grandes cadeias de TV, a ABC, a CBS e a CNN. Inicialmente, afirmou que, ao dar a ordem para o ataque à casa de Abotabad, as probabilidades de Bin Laden ali se encontrar eram de 99,9%; mas na última entrevista essas probabilidades caíram para 55%. A encenação foi muito estudada.
O elogio do Presidente à CIA e ao seu chefe foi encomiástico. Foi ele quem tudo preparou e dirigiu. Leon Panetta, nas suas entrevistas, não escondeu, porém, que a CIA torturou prisioneiros para obter informações decisivas para a localização de Bin Laden. Interrogado sobre os métodos utilizados nos interrogatórios,  defendeu, quase com orgulho, o recurso à tortura e justificou o “afogamento simulado”. Falou com a frieza serena de um gauleiter nazi.
Obama logo que viu as fotos do cadáver de Bin Laden decidiu que não seriam divulgadas. Sabia que elas provocariam uma onda de indignação no mundo islâmico. Mas afirmou então que hesitava e iria refletir. Depois, proibiu a entrega das fotos à comunicaçao social.
Talvez não esperasse que as imagens de três corpos despedaçados  de homens abatidos durante o assalto fossem entregues aos jornalistas pelo Exército do Paquistão.
A rapidez da retirada dos comandos da Marinha do edifício metralhado – levaram somente o cadáver de Bin Laden e o do neto – criou, porém, problemas imprevistos à Casa Branca. Porque os sobreviventes encontrados pelos militares paquistaneses – uma das esposas estava ferida – falaram muito,  e as suas declarações forçaram Obama e o Pentágono a apresentar nova versão da “brilhante operação Gerônimo”.
Reconheceram que, afinal, Bin Laden estava desarmado. Teria sido abatido quando procurava uma pistola, ou, segundo outros, uma metralhadora. O folhetim dos “escudos humanos” também não resistiu a evidências resultantes do interrogatório das testemunhas do massacre. Uma das esposas de Bin Laden, a jovem iemenita Amal Abdulfatah, esclareceu que o marido vivia no Paquistão há sete anos, cinco dos quais na casa de Abotabad e não nas montanhas afegãs, como repetidamente garantia o governo de Washington.
Na sua primeira comunicação ao país, Obama afirmou que a operação, por ele acompanhada da Casa Branca, durou 40 minutos e que o efetivo da “força elite” da Marinha não excedia 20 homens. Mas, posteriormente, altos funcionários civis e militares referiram totais diferentes. Não foi dada uma explicação crível para uma ação armada tão prolongada contra uma casa cujos poucos moradores não opuseram resistência.
Assessores do Presidente e a Marinha repetiram exaustivamente que Bin Laden tinha sido sepultado no mar no respeito dos ritos islâmicos. É insólito o súbito respeito pela religião muçulmana; mas acontece que o Corão não permite sepultamentos marítimos. Os filhos do morto já informaram que pensam processar o Estado norte-americano por mais essa ofensa à sua fé.
Outro tema que ridiculariza a versão oficial dos acontecimentos, e envolve a CIA e o Pentágono num labirinto de mentiras, criou já problemas no campo das relações dos EUA com o Paquistão.
O governo Obama tem, na prática, tratado aquele país como um protetorado de novo tipo. Os bombardeamentos de aldeias do Waziristao por aviões sem piloto da USAF [United States Air Force] tornaram-se rotineiros. Islamabad limita-se a tímidos protestos quando os mísseis estadounidenses  matam camponeses da região. Mas desta vez o desrespeito pela soberania paquistanesa atingiu tais proporções com a intervenção militar concebida para assassinar Bin Laden que a vaga de indignação no país foi maiúscula.
A reação do presidente Asif Zardari foi, porém, suavissima.Por quê? Ficou transparente que o Exército do Paquistão e o seu serviço secreto estavam ao corrente da instalação do chefe da Al Qaeda em Abotabad. A sua casa dista apenas umas centenas de metros da sede da Academia Militar do país. Trata-se de uma cidade de guarnição, com vários quartéis. Alguns meios de comunicação estadounidenses  afirmaram que as Forças Armadas do Paquistão não somente conheciam a presença de Bin Laden, como o protegiam.
A rede de cumplicidades é, porem tão densa, que Tom Donilon, conselheiro de segurança nacional de Obama, levou a hipocrisia ao ponto de declarar aos jornalistas que não há “quaisquer provas” de que o Governo paquistanês tivesse conhecimento da presença no país de Bin Laden.
O farisaísmo do presidente Obama não é menor.Derramou elogios sobre a CIA, enaltecendo como grande e histórico serviço à democracia e à liberdade o  massacre de Abotabad. Mais, deslocou-se à base militar para onde foram conduzidos os comandos da Marinha  e condecorou-os numa cerimônia secreta. Os seus nomes não foram revelados, com receio de represálias, mas na apologia que deles fez guindou-os a heróis tutelares da Pátria.
Como recompensa, o diretor da CIA, Leon Panetta, foi nomeado secretário da Defesa. Simultaneamente, o general Petraeus, comandante supremo na área do Oriente Médio e do Afeganistão, foi transferido para a chefia da CIA…
Ao ler o elogio do senhor da CIA pelo Prêmio Nobel da Paz recordei a atribuição das cruzes de ferro nazis a generais das SS.
Obama, em exibição  mediática permanente, anuncia ao mundo que os EUA utilizam o seu poder militar em defesa de valores e princípios eternos, cumprindo, afinal, a sua vocação de nação predestinada para salvar a humanidade.
Inverte a realidade com despudor. O sistema de poder imperial dos EUA desenvolve uma estratégia orientada para a dominação perpétua e universal, um projeto que ameaça a própria sobrevivência da humanidade.
A chacina de Abotabad inseriu-se nesse projecto monstruoso. Bin Laden – ex-aliado de Washington - foi um tresloucado que inspirava repulsa a centenas de milhões de pessoas. Mas as circunstâncias em que se consumou a sua eliminação são inseparáveis dessa estratégia de controle planetário.
É significativo que os bombardeamentos das áreas tribais do Paquistão por aviões não tripulados sejam agora quase diários. Na Líbia, a Otan continua a bombardear residências de Khadafi,  afirmando que pretende “proteger as populações” no âmbito de uma “intervenção humanitária”.
O poder da gigantesca máquina de desinformação imperial impede os povos de compreenderem o perigo que os ameaça. A mentira é diariamente imposta como verdade a nível planetário.
É alarmante o que está acontecendo. Um dia a humanidade tomará consciência de que o sangrento episódio de Abotabad assinalou uma etapa no avanço de uma engrenagem cujo funcionamento traz à memória os crimes do III Reich alemão.

Publicado originalmente em www.odiario.info.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/6317

Geraldo Vandré - Pra não dizer que não falei das flores

sexta-feira, 13 de maio de 2011

ABONG Opinião: Em defesa do direito da juventude negra à vida

Por racismoambiental, 13/05/2011 12:26
De 1998 a 2008, foram assassinadas no Brasil 521.822 pessoas, a imensa maioria do sexo masculino, de acordo com o “Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil”, encomendado pelo Ministério da Justiça ao Instituto Sangari. Nessa guerra não declarada, a principal vítima é a população jovem. Os dados de 2008 mostram que, enquanto entre as pessoas menores de 15 e maiores de 24 anos apenas 1,8% dos óbitos são causados por homicídios, entre jovens na faixa etária intermediária os assassinatos são responsáveis por 39% das mortes.
A juventude negra é de longe a que mais sofre com esse massacre e a diferença tem aumentado em relação aos brancos. Ao mesmo tempo em que o número de homicídios de jovens brancos caiu 30% de 2002 a 2008, entre os negros subiu 13%. Disso resulta que, se em 2002, a probabilidade de um jovem negro morrer era 45% maior do que a de um branco, em 2008 esse índice atingiu assustadores 127%.
Dados alarmantes como esses, em um país que muitas vezes se gaba de ser pacífico, evidenciam o que há muito tempo se sabe: ocorre no país um verdadeiro extermínio de jovens do sexo masculino, negros e, em sua maioria, pobres. Nas últimas décadas, o movimento negro brasileiro vem denunciando essa tragédia cotidiana, e já fez inúmeras campanhas para exigir uma atitude do poder público. No entanto, as medidas que vêm sendo tomadas para enfrentá-la não estão surtindo efeito, já que o problema tem se agravado e a tendência é que piore ainda mais.
O massacre de jovens afrodescendentes é apenas o ponto final de trajetórias permeadas por diferentes formas de racismo, violações de direitos humanos desde antes do nascimento, exclusão, falta de oportunidades e de perspectivas de futuro.  As profundas desigualdades sociais e os processos discriminatórios que em geral marcam o percurso da juventude negra, herdados do período escravista e reiterados cotidianamente pela sociedade brasileira, deixam poucas saídas para essa parcela da população. Tais jovens estão entre os que têm os piores níveis de escolaridade, entre os que recebem os salários mais baixos, encabeçam a lista dos não alfabetizados, dos desempregados, dos que ocupam os empregos informais, dos que superlotam os presídios.
São milhares de vidas abreviadas pela violência letal, potencialidades desperdiçadas, famílias destruídas. Um verdadeiro massacre que resulta da conjunção de múltiplos fatores. Da ausência de políticas públicas, principalmente relacionadas a uma educação pública de qualidade e a oportunidades de trabalho e renda.  Do aumento do narcotráfico e do consumo de drogas, que aparecem como possibilidades de ascensão social ou de fuga dessa dura realidade, recrutando jovens para o crime organizado e aumentando a criminalidade.
Também decorre de uma política de segurança pública a serviço da elite brasileira. Da persistência da violência institucional, impetrada pela polícia e por outros agentes do Estado, que se manifesta nas revistas pessoais banalizadas, nas abordagens truculentas, nas humilhações, nas agressões, nas prisões arbitrárias, na tortura, na execução sumária de suspeitos. Ações que quase sempre terminam impunes, atingindo muitas vezes jovens inocentes, considerados criminosos simplesmente por serem negros. Da ação das milícias, dos grupos de extermínio, muitas vezes também formados por policiais, que promovem chacinas nas periferias, do contrabando de armas, da proliferação da segurança privada.
Perpetua-se essa situação por conta de uma indignação tímida da opinião pública, que não se mobiliza de verdade enquanto são os pobres os que morrem. Os meios de comunicação tendem a apenas naturalizar a questão ou tratá-la de maneira sensacionalista. Traços de uma sociedade que em grande medida silencia frente ao horror e assim compactua com essa tentativa de extermínio.
Na última década, em reação a essa realidade, a juventude negra vem se organizando para enfrentar a violência da qual constitui o principal alvo, por meio de campanhas, encontros e propostas. Representantes da cultura hip hop, dos grupos culturais, da capoeira, das manifestações regionais, dos coletivos de estudantes, denunciam o problema em sua complexidade e se articulam para aumentar sua participação política, buscando incidir na construção e implementação de políticas públicas. Nesse período, foram criadas instâncias como o Fórum Nacional da Juventude Negra, os fóruns estaduais, e a Rede Nacional de Juventude Negra.  Uma população que, à revelia da tentativa de genocídio, assume o protagonismo no enfrentamento à questão e afirma veementemente que quer viver.
Diante da gravidade desse problema, a ABONG e suas associadas defendem, neste 13 de maio, que ele deve ser encarado verdadeiramente como uma preocupação central de toda a sociedade brasileira, e que revertê-lo precisa ser uma prioridade na atuação dos poderes públicos – executivo, legislativo e judiciário, em nível federal, estadual e municipal. Fazem-se urgentes políticas públicas integradas e articuladas, políticas afirmativas, reparadoras de uma história que colocou a população negra à margem. Não apenas políticas de segurança pública, mas também de saúde, educação, assistência social, moradia, geração de trabalho e renda, cultura, lazer, esporte, comunicação, direcionadas à juventude negra, construídas com a participação desse coletivo, e que levem em conta suas especificidades.
Como sustenta em artigo recente Deise Benedito, presidente da Fala Preta! – Organização de Mulheres Negras, é necessária a elaboração de um plano nacional que contemple medidas de prevenção, enfrentamento, proteção e qualificação, voltado ao combate à letalidade da juventude negra no Brasil, com orçamento próprio e compromisso em sua implementação. Só com vontade política será possível reverter esse problema que traz consequências dramáticas para a sociedade brasileira.
O “Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil” pode ser baixado na íntegra aqui.
http://abong.org.br/informes.php?id=3733&it=3734

Fonte: http://racismoambiental.net.br/2011/05/abong-opiniao-em-defesa-do-direito-da-juventude-negra-a-vida/

Eu te desejo - Flavia Wenceslau

Fez-se vingança, não justiça

Agora estaremos sob o poder de um Imperador sobre quem pesa a acusação de assassinato
11/05/2011

”Somos alvo de terroristas porque, em boa parte no mundo, nosso Governo defende a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos de terroristas porque nos odeiam. E nos odeiam porque nosso Governo faz coisas odiosas”.

Leonardo Boff

Alguém precisa ser inimigo de si mesmo e contrário aos valores humanitários mínimos se aprovasse o nefasto crime do terrorismo da Al Qaeda do 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque. Mas é por todos os títulos inaceitável que um Estado, militarmente o mais poderoso do mundo, para responder ao terrorismo se tenha transformado ele mesmo num Estado terrorista. Foi o que fez Bush, limitando a democracia e suspendendo a vigência incondicional de alguns direitos, que eram apanágio do pais. Fez mais, conduziu duas guerras, contra o Afeganistão e contra o Irã, onde devastou uma das culturas mais antigas da humanidade nas qual foram mortos mais de cem mil pessoas e mais de um milhão de deslocados.
Cabe renovar a pergunta que quase a ninguém interessa colocar: por que se produziram tais atos terroristas? O bispo Robert Bowman de Melbourne Beach da Flórida que fora anteriormente piloto de caças militares durante a guerra do Vietnã respondeu, claramente, no National Catholic Reporter, numa carta aberta ao Presidente:”Somos alvo de terroristas porque, em boa parte no mundo, nosso Governo defende a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos de terroristas porque nos odeiam. E nos odeiam porque nosso Governo faz coisas odiosas”.
Não disse outra coisa Richard Clarke, responsável contra o terrorismo da Casa Branca numa entrevista a Jorge Pontual emitida pela Globonews de 28/02/2010 e repetida no dia 03/05/2011. Havia advertido à CIA e ao Presidente Bush que um ataque da Al Qaeda era iminente em Nova York. Não lhe deram ouvidos. Logo em seguida ocorreu, o que o encheu de raiva.
Essa raiva aumentou contra o Governo quando viu que com mentiras e falsidades Bush, por pura vontade imperial de manter a hegemonia mundial, decretou uma guerra contra o Iraque que não tinha conexão nenhuma com o 11 de setembro. A raiva chegou a um ponto que por saúde e decência se demitiu do cargo.
Mais contundente foi Chalmers Johnson, um dos principais analistas da CIA também numa entrevista ao mesmo jornalista no dia 2 de maio do corrente ano na Globonews. Conheceu por dentro os malefícios que as mais de 800 bases militares norte-americanas produzem, espalhadas pelo mundo todo, pois evocam raiva e revolta nas populações, caldo para o terrorismo. Cita o livro de Eduardo Galeano, “As veias abertas da América Latina”, para ilustrar as barbaridades que os órgãos de Inteligência norte-americanos por aqui fizeram. Denuncia o caráter imperial dos Governos, fundado no uso da inteligiência que recomenda golpes de Estado, organiza assassinato de líderes e ensina a torturar. Em protesto, se demitiu e foi ser professor de história na Universidade da Califórnia. Escreveu três tomos “Blowback” (retaliação) onde previa, por poucos meses de antecedência, as retaliações contra a prepotência norte-americana no mundo. Foi tido como o profeta de 11 de setembro. Este é o pano de fundo para entendermos a atual situação que culminou com a execução criminosa de Osama bin Laden.
Os órgãos de inteligência norte-americanos são uns fracassados. Por dez anos vasculharam o mundo para caçar Bin Laden. Nada conseguiram. Só usando um método imoral, a tortura de um mensageiro de Bin Laden, conseguiram chegar ao su esconderijo. Portanto, não tiveram mérito próprio nenhum.
Tudo nessa caçada está sob o signo da imoralidade, da vergonha e do crime. Primeiramente, o Presidente Barak Obama, como se fosse um “deus” determinou a execução/matança de bin Laden. Isso vai contra o princípio ético universal de “não matar” e dos acordos internacionais que prescrevem a prisão, o julgamento e a punição do acusado. Assim se fez com Hussein do Iraque,com os criminosos nazistas em Nürenberg, com Eichmann em Israel e com outros acusados. Com bin Laden se preferiu a execução intencionada, crime pelo qual Barak Obama deverá um dia responder. Depois se invadiu território do Paquistão, sem qualquer aviso prévio da operação. Em seguida, se sequestrou o cadáver e o lançaram ao mar, crime contra a piedade familiar, direito que cada família tem de enterrar seus mortos, criminosos ou não, pois por piores que sejam, nunca deixam de ser humanos.
Não se fez justiça. Praticou-se a vingança, sempre condenável. “Minha é a vingança” diz o Deus das escrituras das três religiões abraâmicas. Agora estaremos sob o poder de um Imperador sobre quem pesa a acusação de assassinato. E a necrofilia das multidões nos diminui e nos envergonha a todos.

Leonardo Boff é teólogo e escritor.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/6263

A morte de Bin Laden a mando do Prêmio Nobel da Paz

A principal causa das guerras e mortes de civis permanece:a insaciável ganância de acumular riqueza e poder
11/05/2011

Editorial edição 428 do Brasil de Fato
Após dez anos de procura, Osama Bin Laden, líder da rede Al Qaeda, finalmente foi assassinado pelo governo estadunidense. Encontrado numa mansão a 70 km da capital paquistanesa, foi executado com um tiro na cabeça por uma tropa de elite do exército dos EUA, treinada para promover ações encobertas em qualquer parte do planeta. Restava, para concluir a missão, livrar-se do corpo. Jogá-lo em alto-mar, de um helicóptero, na tentativa de desaparecer com os vestígios do cadáver, repetiu a prática dos militares da ditadura Argentina, na década de 1970.
Todo o acontecimento ainda está cercado de dúvidas, afirmações que são desmentidas imediatamente e questões que certamente ficarão sem respostas por muito tempo. O próprio governo dos EUA não hesitou em mentir, vergonhosamente, ao transmitir as primeiras informações sobre o assassinato.
Não há nenhuma defesa a Bin Laden ao se questionar e se indignar com o seu assassinato. Identificado como responsável por inúmeras ações que causaram a morte de milhares de civis, ele deveria ir a julgamento e, caso condenado, pagar pelos seus atos. Certamente, num processo de julgamento seriam identificados outros parceiros, financiadores e mandantes das ações criminosas. Todos merecedores de acompanhá-lo no banco dos réus. Por isso, era conveniente assassiná-lo, não prendê-lo.
O jornalista inglês Robert Fisk lembra que o mesmo aconteceu com Saddam Hussein: foi enforcado antes que tivesse oportunidade de falar sobre os componentes do gás fornecido pelos EUA e usado contra os curdos ou sobre a ajuda militar que recebeu de Washington quando invadiu o Irã em 1980.
Não faltaram os aplausos de inúmeros governos à ação militar ordenada por Barack Obama. Desse modo, foram coniventes com a prática da tortura para obter informações, como fizeram e reconheceram autoridades estadunidenses. Ignoraram a violação da soberania nacional do Paquistão, caso se confirme que a ação militar foi feita sem o conhecimento daquele país. Deram respaldo para que os EUA enviem uma tropa de elite para qualquer país para assassinar pessoas que julgam serem suas inimigas.
Jogaram na lata do lixo o princípio de justiça que exige um processo legal, um tribunal, uma audiência, um defensor, um julgamento para condenar ou inocentar qualquer ser humano. É trágico como a maioria dos governos se comporta como vassalos frente aos interesses dos EUA.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, chegou a afirmar que Bin Laden foi o iniciador de uma ideologia do ódio e causador de milhares de vítimas em todo o mundo, principalmente nos países islâmicos. Sarkozy é o mesmo presidente que lidera uma coalizão de países ocidentais que diariamente bombardeia o território líbio. Mesmo depois de Bin Laden ter sido sepultado no mar, centenas de civis continuam sendo mortos, não por serem islâmicos, e sim porque moram nos territórios ricos em reservas petrolíferas.
A euforia do assassinato propagada pelo governo Obama e a conivência da mídia ocidental esconderam da opinião pública que Bin Laden foi um “inimigo”, no mínimo, conveniente para o imperialismo estadunidense. No Afeganistão, foi o principal aliado do EUA contra a ocupação da URSS àquele país. Após o fim da URSS e, consequentemente, o desaparecimento do medo do comunismo, o terrorismo de Bin Laden assumiu o papel de inimigo número 1 da pax americana. Os atentados de 11 de setembro de 2001 serviram para que o governo de George W. Bush instituísse a “guerra global contra o terror”, declarasse guerra e ocupasse o Iraque e o Afeganistão e, posteriormente, internalizasse esse conflito no território paquistanês. Uma estratégia que lhe assegurou o controle sobre as reservas de petróleo e dos oleodutos desses países e lhe permitiu instalar bases militares próximas a países como China, Irã e Rússia. Guerras que deram à indústria bélica dos EUA lucros fabulosos e que amenizaram os efeitos da crise econômica instalada naquele país.
Um inimigo tão conveniente que a própria secretaria de Estado dos EUA, Hillary Clinton, reconheceu, em memorando, que a Arábia Saudita – um dos principais aliados do seu país no Oriente Médio – garantia o apoio financeiro essencial à Al Qaeda. Da mesma forma, não deixa de ser instigante que o Paquistão, aliado dos EUA na guerra contra o Afeganistão, abrigou Bin Laden por seis anos, sem que em nenhum momento fosse ameaçado pelo exército e pelo serviço secreto de inteligência da maior potência militar do planeta.
Primeiro, não era conveniente prendê-lo porque servia aos interesses do império. Depois, esgotada sua serventia, tornou-se inconveniente sua prisão pelo que sabia e poderia revelar. Morto, ainda serviu para elevar os índices de aprovação do governo do Prêmio Nobel da Paz, Barack Obama, visando a reeleição em 2012.
Enquanto continuarem as políticas imperialistas das grandes potências capitalistas, de pouco adiantará ter jogado o cadáver de Bin Laden no fundo do mar. A principal causa das guerras e mortes de civis permanece:a insaciável ganância de acumular riqueza e poder.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/6265

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A barbárie e a estupidez jornalística

Nenhuma palavra sobre quebra de soberania, sobre invasão ilegal, sobre o absurdo de um assassinato

04/05/2011


Elaine Tavares




Imaginem vocês se um pequeno operativo do exército cubano entrasse em Miami e atacasse a casa onde vive Posada Carriles, o terrorista responsável pela explosão de várias bombas em hotéis cubanos e pela derrubada de um avião que matou 73 pessoas. Imagine que esse operativo assassinasse o tal terrorista em terras estadunidenses. Que lhes parece que aconteceria? O mundo inteiro se levantaria em uníssono condenado o ataque. Haveria especialistas em direito internacional alegando que um país não pode adentrar com um grupo de militares em outro país livre, que isso se configura em quebra da soberania, ou ato de guerra. Possivelmente Cuba seria retaliada e, com certeza, invadida por tropas estadunidenses por ter cometido o crime de invasão. Seria um escândalo internacional e os jornalistas de todo mundo anunciariam a notícia como um crime bárbaro e sem justificativa.

Mas, como foi os Estados Unidos que entrou no Paquistão, isso parece coisa muito natural. Nenhuma palavra sobre quebra de soberania, sobre invasão ilegal, sobre o absurdo de um assassinato. Pelo que se sabe, até mesmo os mais sanguinários carrascos nazistas foram julgados. Osama não. Foi assassinato e o Prêmio Nobel da Paz inaugurou mais uma novidade: o crime de vingança agora é legal. Pressuposto perigoso demais nestes tempos em que os EUA são a polícia do mundo.

Agora imagine mais uma coisa insólita. O governo elege um inimigo número um, caça esse inimigo por uma década, faz dele a própria imagem do demônio, evitando dizer, é claro, que foi um demônio criado pelo próprio serviço secreto estadunidense. Aí, um belo dia, seus soldados aguerridos encontram esse homem, com toda a sede de vingança que lhes foi incutida. E esses soldados matam o “demônio”. Então, por respeito, eles realizam todos os preceitos da religião do “demônio”. Lavam o corpo, enrolam em um lençol branco e o jogam no mar. Ora, se era Osama o próprio mal encarnado, porque raios os soldados iriam respeitar sua religião? Que história mais sem pé e sem cabeça.

E, tendo encontrado o inimigo mais procurado, nenhuma foto do corpo? Nenhum vestígio? Ah, sim, um exame de DNA, feito pelos agentes da CIA. Bueno, acredite quem quiser.

O mais vexatório nisso tudo é ouvir os jornalistas de todo mundo repetindo a notícia sem que qualquer prova concreta seja apresentada. Acreditar na declaração de agentes da CIA é coisa muito pueril. Seria ingênuo se não se soubesse da profunda submissão e colonialismo do jornalismo mundial.

Olha, eu sei lá, mas o que vi na televisão chegou às raias do absurdo. Sendo verdade ou mentira o que aconteceu, ambas as coisas são absolutamente impensáveis num mundo em que imperam o tal do “estado de direito”. Não há mais limites para o império. Definitivamente são tempos sombrios. E pelo que se vê, voltamos ao tempo do farwest, só que agora, o céu é o limite. Pelo menos para o império. Darth Vader é fichinha!


Elaine Tavares é jornalista


Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/6209

quinta-feira, 5 de maio de 2011

"Assassinato de Bin Laden foi detestável", diz Fidel Castro




HAVANA - O líder cubano Fidel Castro afirmou em um artigo publicado nesta quinta-feira que "qualquer que fossem os atos atribuídos a Bin Laden, o assassinato de um ser humano desarmado e rodeado por familiares constitui um fato detestável".
"Aparentemente foi isso o que fez o governo da nação mais poderosa, que nunca existiu", completou, em referência à operação americana no Paquistão que matou o líder da Al-Qaeda.

Fonte: http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2011/05/05/assassinato-de-bin-laden-foi-detestavel-diz-fidel-castro/

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Morte de Osama Bin Laden é irrelevante, diz Robert Fisk

O veterano jornalista Robert Fisk, que entrevistou Osama Bin Laden em três ocasiões, disse que a notícia da morte de Bin Laden é muito menos importante que os levantamentos populares que acontecem no mundo árabe.

Por Redação 02.05.2011 



O veterano jornalista Robert Fisk, que entrevistou Osama Bin Laden em três ocasiões, disse que a notícia da morte de Bin Laden é muito menos importante que os levantamentos populares que acontecem no mundo árabe. “Já venho dizendo há algum tempo que acho o fato de ele estar ou não estar morto bem irrelevante”, diz o correspondente do jornal inglês The Independent no Oriente Médio. “Ele fundou a Al Qaeda e essa foi, a seus olhos, sua realização”.

O premiado jornalista diz que Osama Bin Laden não estava em condições de realmente dirigir operações da Al Qaeda. “Ele não estava sentado numa caverna com teclas de computador e dizendo 'aperte o botão B, é a operação 52'”, diz Robert Fisk.

Fisk, que ultimamente esteve noticiando os acontecimentos na Síria, diz que o mundo mudou de várias formas desde o 11 de setembro. “Nos últimos meses vimos um despertar árabe no qual milhões de árabes muçulmanos derrubaram suas próprias lideranças”, ele diz.

“Bin Laden sempre quis acabar com Mubarak e Ben Ali e Kaddafi e os demais, argumentando que eles eram infiéis que serviam à América e, na realidade, foram milhões de pessoas comuns que, pacificamente — bem, mais ou menos, e com certeza no caso da Tunísia e do Egito — , se livraram deles. Bin Laden não, ele fracassou nessa tarefa”.

“Você tem que se lembrar que esses regimes sempre disseram aos americanos: 'continuem nos apoiando, porque senão a Al Qaeda toma o poder' — e na verdade a Al Qaeda não tomou poder nenhum”.

É interessante que, depois da derrubada de Mubarak, a primeira coisa que se ouviu da Al Qaeda, uma semana depois, foi um chamado para a derrubada de Mubarak, uma semana depois que ele havia caído. Foi patético”.

Fisk diz que as comemorações da morte de Bin Laden nos Estados Unidos são insignificantes. “Acho que Osama Bin Laden perdeu a relevância há muito tempo, na verdade. Se eles tivessem matado Bin Laden um ou dois anos depois do 11 de setembro, uma parte dessa bateção no peito poderia ter tido alguma relevância. Esses punhos no ar nos Estados Unidos, celebrando vitória, são boas imagens, mas acredito que elas não significam nada”, diz ele.

“O fato real que temos no mundo hoje, o que é importante, é um levante de massas e um despertar de milhões de árabes muçulmanos para derrubar ditadores”.

Robert Fisk diz que esses levantes são “muito, muito mais importantes que um homem de meia-idade sendo morto no Paquistão”.

Rebeliões: destruindo os estereótipos das mulheres árabes

Entre esta nova geração de proeminentes mulheres árabes, a maioria escolhe usar o hijab. Urbanizadas e educadas, elas não são menos confiantes e carismáticas que suas irmãs “desveladas”.

02/05/2011

Por Soumaya Ghannoushi em  26.04.2011 
 

As revoluções árabes não somente estão abalando as estruturas da tirania até suas mais profundas fundações – mas estão destruindo muitos dos mitos a respeito da região árabe que têm se acumulado por décadas. No topo desta lista de mitos dominantes estão aqueles das mulheres árabes como enjauladas, silenciadas, e invisíveis. Estes não são os tipos de mulheres que apareceram na Tunísia, Egito ou mesmo no ultraconservador Iêmen nas últimas semanas e meses.
Não somente as mulheres participaram ativamente nos movimentos de protestos enfurecidos nestes países, como desempenharam também papéis fundamentais. Elas organizaram protestos e piquetes, mobilizaram muitos cidadãos, e eloquentemente expressaram suas exigências e aspirações por mudanças democráticas.
Como Israa Abdel Fatteh. Nawara Nejm, e Tawakul Karman, a maioria das mulheres está na faixa dos 20 ou 30 anos. Há ainda casos inspiradores de ativistas mais velhas: Saida Saadouni, uma mulher com seus 70 anos na Tunísia, enrolou a bandeira nacional em seus ombros e participou dos protestos de Qasaba que conseguiram derrubar o governo provisório de M. Ghannouchi. Tendo protestado por duas semanas, ela disseminou um espírito revolucionário único entre os milhares que se reuniram a sua volta para escutar seus discursos incendiários. “Eu resisti à ocupação francesa. Eu resisti às ditaduras de Bourguiba e Ben Ali. Não descansarei enquanto nossa revolução não chegar ao fim, por vocês, meus filhos e filhas, não por mim,” disse Saadouni.
Seja nos campos de batalha virtuais da internet ou nos protestos físicos nas ruas, as mulheres têm se provado como reais incubadoras de lideranças. Isto é parte de um fenômeno mais amplo característico destas revoluções. A política aberta das ruas fez nascer e amadurecer futuras líderes. Elas crescem organicamente nos campos, muito mais do que sendo impostos de cima por organizações políticas, grupos religiosos ou imposições de gênero.
Outro estereótipo sendo desconstruído neste movimento é a associação da burca com a passividade, submissão e segregação. Entre esta nova geração de proeminentes mulheres árabes, a maioria escolhe usar o hijab. Urbanizadas e educadas, elas não são menos confiantes e carismáticas que suas irmãs “desveladas”. Elas são uma expressão da complexa formação da cultura muçulmana, com processos de modernização e globalização sendo a marca fundamental da sociedade árabe contemporânea.
Este novo modelo de líderes mulheres criadas em suas terras natais, nascidas de levantes revolucionários, representa um desafio a duas narrativas, as quais, embora diferentes nos detalhes, são similares em referência ao mito da singularidade cultural árabe; ambos destituem a figura da mulher árabe como criatura inerte e sem força de vontade.
A primeira narrativa – que é dominante nos círculos muçulmanos conservadores – sentencia as mulheres a uma vida de reprodução e criação das crianças; mulheres são feitas pra viver nos estreitos confins de suas casas com a permissão de seus maridos e parentes homens. Sua presença deve se limitar em torno de noções de pureza sexual e honra familiar; interpretações reducionistas da religião são procuradas para justificar isto.
A outra visão é abraçada por euro-americanos neoliberais, que veem as mulheres árabes e muçulmanas através do estreito prisma do modelo Talibã: objetos miseráveis de pena que precisam de uma intervenção benevolente de intelectuais, políticos ou mesmo militares. Mulheres árabes aguardam a libertação da jaula escura do velamento para um jardim prometido de iluminação.
As mulheres árabes estão se rebelando contra ambos modelos: elas estão tomando para si as rédeas dos próprios destinos libertando a si mesmas ao passo em que libertam suas sociedades das ditaduras. O modelo de emancipação que estão conformando com suas próprias mãos é definido por suas próprias necessidades, escolhas e prioridades – e de ninguém mais.
Embora possa haver resistência a este processo de emancipação, a Praça Tahrir e Qasaba agora são parte da psiquê e da cultura das mulheres árabes. De fato, elas finalmente têm voz para gritar seus há muito silenciados anseios por libertação do autoritarismo – tanto político quanto patriarcal.

Fonte: http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9255